sábado, 25 de agosto de 2012

O som do riso da saudade


Uma gargalhada.
Foi engraçado até o momento em que as coisas fugiram do meu controle emocional. Se ainda restou algo aí dentro, eu te parabenizo. Por tudo. Tenho que confessar que eu sempre gostei do seu jeito seco e, de alguma forma, isso sempre me levou a ir atrás de você. Seus olhos fundos e intensos escondem uma parte escura que você nunca fez questão de esconder. Sentei no banco e não vou mais me mexer. Eu fico, dessa vez. Cansei de ir atrás, como sempre fiz. Por um ou dois minutos de atenção, não sei. Mas eu ia. Ia sempre. Não importava ficar longe, é verdade. Na realidade, você conseguiu isso por muito tempo. Não é algo difícil me encantar, eu sei, mas com você foi diferente. Você não me encantou. Você me instigou. Entende? Eu precisava ir mais fundo só pra ver onde ia parar toda essa loucura masoquista. E fui. Terminei onde eu esperei que terminaria. Aqui.
Talvez eu sempre soube que você é quem nunca aparentou ser. Talvez eu sempre soube que você não ligava pra nada a não ser o seu umbigo. E não liga mesmo. Todo esse seu teatro emocional chega a ser forçado. Você é egoísta, e tem que admitir isso pra si mesma. Vamos, não é uma coisa tão difícil. Você não vai se perder. Talvez, daqui alguns meses, eu vou rir. Vou rir de saudade.
Saudades de você. Porque tudo o que vai, deixa uma lacuna. Não seria diferente, não seria diferente dessa vez. Você poderia ficar. (…) Eu esqueceria do seu discurso idiota por mais um ou dois minutos e depois agarraria as suas pernas e te pediria pra ficar. Você riria. Cuspiria na minha cara e me chamaria de ridícula. Por isso, não é isso que eu vou fazer. Não é isso que eu faria. Só que isso mudou, e você sentiu essa mudança. Um milhão de acusações sem sentidos não mudam o fato. Realmente, você não tem a sorte que eu tenho de me desprender das pessoas. É automático, você sabe. Daqui um ou dois meses eu vou estar completamente de pé. Vou olhar pra você e sentir o mesmo fogo subindo pela garganta que eu senti essa noite, na nossa discussão babaca.
Talvez o erro tenha sido meu e esse negócio de se desprender seja muito superficial. Mas eu não ligo. Tem chá pro café da manhã. (…) Irônico. Você gosta de chá? Acho que eu nunca te perguntei isso. Porque nunca foi necessário. Você sempre foi pra mim uma pergunta respondida, uma carta já enviada, uma foto tirada, um texto com um ponto final. Pra mim, você não teria continuidade em nada. É como se fosse um morto vivo. Você só anda. Você não sente. Nunca sentiu. Sua convivência comigo te fez um pouco mais egoísta do que o normal, porque, você sabe, eu sou egoísta. Mas eu não tenho medo de ser egoísta. Aprendi a me levantar sozinha e acho que você deveria fazer o mesmo.
Me deixar não foi o pior dos seus erros. Por favor, acredite nisso. Amanhã ou depois você pode voltar, murmurar meia dúzia de palavras e pra você estará tudo bem. Tudo normal, como se nada tivesse mudado. Pra mim não. 
Sinto muito, mas dessa vez eu morri. E eu não quero ter que viver denovo pra ver todo o ódio sendo reluzido pelo retrovisor do carro. Eu só quero que você vá. Pra longe. Eu não quero mais isso. E por mais que doa, e torture, e assuste, eu quero ficar sozinha. Sozinha. Só eu comigo. Só uma vez nessa vida. Não quero que você esteja em nada do que eu faço. Não quero que o meu bocejo, de manhã, seja por culpa sua. Não quero ver uma frase de um livro qualquer e lembrar do seu sorriso. Eu não quero, e nem vou. Porque você morreu aqui. Nasceu, viveu e morreu. Culpa sua. Toda sua. E do seu egoísmo. E da sua beleza indiscutível. Nunca conheci alguém tão bonito e tão morto. É, isso é o que você é. Morto. Você não tem nada aí dentro, além de uma hipocrisia maldita. Você não gosta de ninguém e nunca gostou. Você nem se quer fingiu gostar de mim. Acho, ainda, que preferia a mentira. Um ator. Cansei de ser coadjuvante em uma peça que eu nunca fiz parte. Não sou um tanto faz, e nem quero. Pode rir agora, já estou sozinha.
E você também.
Cecília T.

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