sábado, 3 de novembro de 2012

Te vejo esconder um oceano nos olhos, uma saudade esmagadora em um sorriso torto. Te vejo como uma curva no horizonte, uma certeza que corta o peito em dois pedaços e oferece pra vida se alimentar. Te vejo como uma interrogação perdida entre palavras sujas e incertas. O que passa pelo seu rosto não deixa rastro e nem pistas; o que te fez assim não te dá outra opção a não ser fugir. Pra um lugar qualquer, pra longe daqui, pra um lugar onde você possa ser você sem que ninguém possa te ver. Daqui eu te espio, com um certo receio. Não quero ofuscar teu brilho já escondido, nem quero roubar suas incertezas por meio maço de cigarro. Não quero te ver cair em um penhasco alto, sem opções de fuga. Não quero te ver correndo do abismo, da dúvida e da dor. Te quero enfrentando as barreiras com força. Quero seus olhos verdes olhando o infinito com toda a doçura que teu coração tem.

''Let it be'', baby.

Cecília T.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Hoje eu chorei meu coração inteiro.

Os livros não me descrevem mais, desde setembro de 1997. O peso dos anos invadindo o meu corpo me asfixia, me cega, e me rouba. Se perder não é mais tão difícil assim, e olhar pela janela o mundo lá fora se tornou cada vez mais assustador. Meu quarto é pequeno para tantas saudades. Tentei estocá-las em todos os cantos de mim, e da minha vida, mas sem sucesso, eu volto aqui, pra chorar a saudade que eu guardei e escondi, de um jeito tão bom, e tão certo, que me esqueci de esquecer. Sentir o corpo cansado não é mais tão difícil. As palavras secaram, e a fonte fica tão longe, tão longe, que chorar talvez seja o caminho mais rápido pra chegar em mim. Não me queixo de nada. Talvez, a lembrança do que fui pode me ajudar a construir quem eu serei um dia, mesmo com todos os erros e acertos, mesmo com todos os erros e acertos do mundo, eu ainda serei eu. Mesmo com a superficialidade das pessoas e a falta de amor em todos os olhos perdidos por aí, eu ainda serei eu. Mesmo sem ninguém por perto e com o coração espremido, eu ainda serei eu. Mesmo com os olhos cheio de água e uma vida inteira pra se derramar, mesmo com uma fuga completa, feita, montada e programada, não consigo me abandonar, simplismente, em um canto, e sair correndo. Mesmo sendo pesada emocionalmente, sou prisioneira dos meus próprios medos. A fuga parece tão superficial quanto o sorriso das pessoas na rua. Eu não acho nada parecido com você em lugar nenhum, me sinto correndo com os olhos cheios de água em direção ao abismo que é sentir a sua falta.

Cecília T.

Profundidade

Espero o telefone que não toca, a buzina que me assusta, a rua que me enlouquece. Espero o nada que sou se misturar com o nada que fui, espero ver o porta-retrato do seu sorriso na estante. Espero guardar seus sorrisos na gaveta mais longe o possível da janela. Sorrisos como o seu, têm asas. Não quero que eles voem pra longe de mim, então eu me prendo neles, e eles se prendem em você, aí não existe maneira de fugir. O cheiro dos livros já não me preenche mais, a essência do seu corpo ficou por aqui. Em cada canto, tem seu rastro. Você deixou em mim as marcas mais profundas, e profundidades me inundam o tempo inteiro. Talvez eu não tenha nada na bagagem e você seja só mais um sorriso que eu ganhei, ou eu seja um lixo tão insignificante que você não consiga me ver. Seus olhos não me alcançam e eu preciso te encontrar.
Mas como?

Cecília T.

domingo, 26 de agosto de 2012

Sobre

Sobre prender, segurar, amarrar, ou qualquer coisa parecida. Prender pelas pernas, segurar pelos braços, amarrar pelos abraços, e virar pó. Pelos dedos dos pés, pelas entranhas do corpo, por cada milímetro que te faz humano, por cada pedaço que te mantém vivo ou sobrevivendo. Rastros de um tempo que já não passa mais, apenas sussurra que ''precisa ir, vai, e pronto''. Não há o que fazer. Sair correndo e tentar agarrar o tempo pelas pernas, braços e abraços, não adianta mais. Não existem pernas do tamanho do céu, e por isso, choro as lágrimas que me levam voando até a dimensão mais longe daqui. Eu corro. Eu vou embora de mim todos os dias, não tenho estrutura pra me segurar. Então eu me solto. Sem braços, pernas, ou abraços. Eu me solto e sinto o tempo me levar aos poucos, sem me prender, sem me apertar, sem me forçar. Mesmo contorcida e transbordando todos os oceanos, eu continuo parada. Inquieta e sempre pensativa. Pensar enlouquece, chorar dá olheiras. Já não posso mais, já não consigo mais. Preciso fugir, preciso de algo que me faça ficar.

E eu queria, queria tanto, que fosse você.

Cecília T.

Sarah,

lembre-se que força não se dá. Força é. Lembre-se que o céu não significa nada quando uma estrada significa quase tudo. Lembre-se que o oco do espaço que inunda as mentes nas madrugadas dos dias frios, nada mais é do que a frustração de uma vida inteira, envolvida por uma cápsula chamada medo. Lembre-se que fé não está acima de todas as coisas e que o mundo pode ser um lugar assustador para aqueles que sentem. Lembre-se que quando nos deslocamos de nós mesmos, raramente encaixamos denovo, e é aí que se testa nossa flexibilidade sentimental, raramente sentida. Lembre-se que a tristeza pode viver nos olhos claros, e que o escuro que vem de dentro é mais intenso do que qualquer outro escuro que existe. Lembre-se que pelas veias de uma pessoa não correm só sangue, mas correm histórias. Algumas mais largas, outras nem tanto. Mas todas têm um caminho, um porquê, um rastro. Lembre-se que esse rastro é o que dá a cor para cada pessoa. Digo, aqui, que o sangue depende da cor da alma. Sarah, também digo que a sua, é uma cor indefinida. Vai do cinza ao amarelo com uma facilidade enorme. A beleza que tem no olhar vai além de um par de olhos castanhos amendoados e um sorriso que leva brilho na bagagem. Vai muito além. A beleza vem do cinza, do amarelo, e de todas as outras cores que você carrega dentro de si. Se a beleza  fosse algo que todo mundo tivesse, não teria graça. Ainda assim, todos tem alguma beleza. Mesmo que pouca, alguma coisa boa todo mundo tem. Lembre-se que existem outras pessoas que têm beleza, e não sabem. Deve ser o seu caso, você nunca me contou.

Cecília T.

sábado, 25 de agosto de 2012

Esquizofrenia


O vento que me abraça é o vento que me leva embora, pouco a pouco. Vou escorrendo as mágoas que deixei pra trás, mas continuo carregando um pedaço comigo, pra lembrar o porquê de ter me tornado assim. Quando o copo de água chega na metade eu penso no nada que eu sou, e em tudo o que eu poderia ter feito pra ser menos do que que agora. As portas entre abertas me contam verdades. Corroem minhas mentiras e roubam minhas esperanças. No fim, não sou. Talvez por fraqueza minha e ódio dos outros. Ou por ódio de mim mesma e fraqueza alheia. Não sei. Não ser não se trata, simplismente, de não querer. Não ser vai além do que nós pensamos. Tudo vai além do que nossas mentes pequenas imaginam. Sonhos se constroem, não se matam. Sonhos vão embora, mas lutam pra ficar. Sonhos se vão e podem voltar, mas dependeria de mim. Nunca gostei de dependência. De uns dias pra cá, aprendi o sentido de ser melhor. Tentar ser melhor. O tempo corre cada vez mais rápido e eu não vejo pra onde correr. As mãos que tapam os meus olhos são as que me salvam do abismo. Os braços que me abraçam são os que me enforcam. A dúvida que me enlouquece é o porto seguro da minha loucura. A minha esquizofrenia está cada dia pior, e o que eu posso dizer, com certeza, é que as flores não morrerão nesse verão. O amor será maior. Um pouco de água, e tudo fica bem.
Sempre fica bem.

Cecília T.